"Entre o sono e o sonho, entre mim e o que em mim, é o quem eu me suponho, corre um rio sem fim"... Contradições, momentos, emoções, risos e lágrimas... Loucura e fantasia... Sempre a razão e a realidade... Eu, quando me olho ao meu espelho... de estilhaços

quinta-feira, novembro 15, 2007

767

noite após noite espera o 767... mas ele nunca chega... ou chega, mas não pára. porque ao pé dele ninguém pára, nem sequer para apanhar o autocarro. afinal, é um vagabundo. casaco desbotado e roto, barba que já não se lembra da última vez que foi feita, olhos... olhos quê? fechados... sono profundo, imune a buzinas intermitentes, aos estalidos dos passos a pisar as folhas secas de outuno. está para ali largado, deitado, embrulhado em si mesmo para enganar o frio. mas os vidros sujos da paragem do 767 protegem pouco. da brisa gelada. do vento. e do meu olhar que ali se detém todos os dias - passagem obrigatória no meu caminho para casa. à hora de jantar (o meu, não o dele, que já não deve ter horas) lá está aninhado no banco, indiferente, com os olhos sempre cerrados, cegos a própria miséria.

outro dia tinha passado numa pastelaria, trazia um croissant simples e um sumo num saco. quando virava a esquina, vi a paragem do 767. tive vontade de parar, de discretamente pousar lá o saco ao pé dele e fugir de mansinho. quis fazê-lo mas fui covarde, como todos os outros que ali passam. fui-o nos outros dias a seguir, como o tinha sido nos dias antes. fui-o hoje, provavelmente vou sê-lo amanhã, ou pode ser que não.

eu ainda tenho escolha, ele talvez não... até amanhã, na paragem do 767.

quarta-feira, novembro 14, 2007

devaneios tolos

quando nos deslocamos tranquilamente na rua e, ao passar por um homem de meia idade, acompanhado da mulheres e das filhas pequenas, nos sentimos observadas de alto a baixo por um cão faminto, dá que pensar... hoje pelo menos a mim deu-me, visto que fazia a minha caminhada habitual para o jornal e que não tinha coisas importantes em que pensar...
mas conforme passava para a segunda rua (e graças a deus, última rua) a percorrer, comecei a pensar se um dia não se iria passar o mesmo comigo...

afinal, se a natureza seguir o seu curso natural e as estatísticas sobre a alma masculina se provarem (se não conhece essas estatísticas, fique sabendo que são como as bruxas: pode não acreditar nelas, mas que as há, há!), estou bem lixada...

por isso, deixo o conselho a todas as minhas amigas e também às inimigas (para que estas últimas um dia, ao lhes calhar na rifa uma das alminhas que entrou para as estatísticas, não se voltem para o que é das outras!): mais vale um cão esfomeado numa casa com bastante fartura do que na rua! (a propósito, decretem de uma vez por todas o boicote à terrível desculpa das "enxaquecas"... já nem eles acreditam nisso)

quarta-feira, novembro 07, 2007

falta-me tempo... mas ainda não sei bem para quê... e ao mesmo tempo não me falta tempo, porque ainda passo algumas horas da noite sem fazer nada, a deambular por uma casa deserta, a olhar para a televisão desligada, a pousar pela milésima vez aquele livro que nunca mais acaba... e podia fazer tantas coisas, mas falta... sei lá... falta a vontade de pegar no telemóvel, de descer os 80 degraus, de ir apanhar o metro, e por aí adiante.

talvez me falte tempo para pensar, mas também não sei se quero pensar (Pensar cansa!)... ou talvez nem sequer soubesse no que pensar...

não me perguntem o que quero para o futuro, se não consigo ainda ver o futuro para além do momento que sucede o agora.