"Entre o sono e o sonho, entre mim e o que em mim, é o quem eu me suponho, corre um rio sem fim"... Contradições, momentos, emoções, risos e lágrimas... Loucura e fantasia... Sempre a razão e a realidade... Eu, quando me olho ao meu espelho... de estilhaços

quinta-feira, outubro 16, 2008

Às vezes esta cidade sufoca-me. A sua grandeza, a altura dos edifícios, os laivos alucinados que pressinto por detrás dos entreolhares no metro, o metro, o ar pesado e sufocante do metro, as luzes ferozes dos centros comerciais, os obscuros seguranças à entrada dos clubes nocturnos da Duque de Loulé, os homens de fato e gravata à espera nos carros.
Às vezes esta cidade sufoca-me. As paredes do quarto atrofiam, as portas que rangem, a varanda que dá para a casa da frente. As paredes que dão para os quartos do lado. A prisão. Do lado de lá do muro.
E as pessoas. Sufoca-me vê-los deitados num recanto qualquer, abandonados a um cobertor velho. E sufoca perceber que não vejo aqui ninguém capaz de dar boleia até casa a um casal de avós com três netos para carregar e um monte de malas, como em Coimbra. Ou alguém capaz de estender um cigarro àquele mendigo ao pé de casa. Talvez porque todos os outros já sufocaram. Nós não.