"Entre o sono e o sonho, entre mim e o que em mim, é o quem eu me suponho, corre um rio sem fim"... Contradições, momentos, emoções, risos e lágrimas... Loucura e fantasia... Sempre a razão e a realidade... Eu, quando me olho ao meu espelho... de estilhaços

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Roma, "caput mundis"

é senso comum que, estando em Italia, nao se pode evitar a viagem à capital. e quem sou eu, afinal, para contrariar o senso comum?

dia 3 de Dezembro... era ainda manha... nao muito cedo... afinal, a noite anterior tinha sido longa, e nem mesmo a vontade (sempre incentivo) de viajar, me conseguia arrancar da cama mais cedo...

em 2 horas e meia de viagem tive tempo suficiente para pensar no significado de "estou realmente a ir para Roma!... desde que estou em Italia (e mesmo depois de ja ter ido ao grande mito "Veneza""), era a primeira vez que dava por mim a pensar, conscientemente, que me encontro no pais em que realmente me encontro... estranho, eu sei... mas sempre tive a sensaçao que so iria perceber que ca tinha estado apos regressar a Portugal...

mas desta vez foi diferente. durante a viagem, o meu pensamento começou a a alimentar um conjunto de expectativas que, para falar a verdade, me assustaram um pouco. na verdade, eu, com a minha eterna mania de me analisar racionalmente a mim propria (aos meus pensamentos e sentimentos), pensava apenas "quando as expectativas sao demasiado altas, acabamos inevitavelmente por nos decepcionar"...

mas enganei-me... tal nao sucedeu. acredito, contudo, que Roma possa decepcionar a muitos... àqueles que a procuram na esperança de ver plenamente todos os vestigios da antiga "cabeça do mundo"! de facto, esses vestigios la se encontram... o coliseu, o forum romano, o circo massimo, etc... mas eles pedem antes para ser vislumbrados à luz da nova Roma... a Roma das largas avenidas, de transito caotico, do rumor por vezes ensurdecedor... de facto, ter que fazer a pé grandes avenidas para ir, por exemplo, do coliseu ao circo massimo, é, no minimo, algo de inusitado, algo que o viajante (aquele viajante que da cidade nunca tinha visto mais do que postais de monumentos) nao estava decididamente à espera.

mas, andando uns quantos minutos para a direcçao da Piazza di Spagna, da Piazza navona, da Fontana dei Trevi, do Panteao, encontramos uma Roma ja bastante diferente... uma Roma de ruas estreitas e por vezes sinuosas, que desembocam em pequenos e medios largos, enfeitados geralmente com a sua igreja e as suas simpaticas "trattorie" que se oferecem convidativas aos nossos sentidos... uma especie de mini-Roma dentro da maxi-Roma... a Roma que, a noite, se enche de luzes e de gente...

foi assim que eu vi Roma e é assim que a retenho na minha memoria... uma cidade de contrastes... dividida entre a antiguidade e a modernidade. muitas outras cidades sao assim tambem, bem sei... mas nao sei se em alguma havera uma mistura, uma fusao tao flagrante, tao intensa, tao plena de VIDA! (foi isso que senti pulsar em Roma... vida!). Roma é uma cidade de museus, ms sobretudo de museus ao ar livre... museus que todos os dias respiram o fumo de escape dos milhares de automoveis que transitam pelas ruas e avenidas, que sao a paisagem diaria de milhares de pessoas anonimas que se deslocam para os seus empregos... e tambem o cenario da decadencia social, da pobreza que nos fulmina, da tristeza imensa no olhar daquela criança que preenche, com o som do seu acordeao, o ar abafado dentro do autocarro.